Quem foi Dom Pedro II? Um resumo de sua vida e legado.
Pedro II (nome completo: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga; Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891), chamado de “o Magnânimo”, foi o segundo e último imperador do Brasil. Ele governou por 58 anos. Filho mais novo de Pedro I do Brasil e da imperatriz Maria Leopoldina da Áustria, ele fazia parte da Casa de Bragança. Nascido no Palácio Imperial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, Pedro se tornou imperador aos cinco anos. A abdicação inesperada de seu pai, que voltou a Portugal, o colocou no trono. A infância foi marcada por intensos estudos e poucos momentos de diversão ou amizade. Essas experiências, além das disputas políticas e intrigas palacianas, moldaram seu caráter. Ele se tornou um homem comprometido com o dever, ainda que, com o tempo, passasse a se sentir preso ao papel de monarca.
Aos 14 anos, assumiu o governo com a maioridade antecipada para impedir a desintegração do Império. Ao final de seu reinado, deixou ao Brasil um país em ascensão no cenário internacional. O país se destacava entre os vizinhos latino-americanos pela estabilidade política e pela monarquia parlamentar constitucional. Durante seu governo, o Brasil venceu três importantes conflitos: a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai. Além disso, superou várias crises internas e disputas externas. Pedro II, conhecido por seu amor ao conhecimento, apoiou o desenvolvimento das ciências e das artes. Ele conquistou a admiração de intelectuais como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, além de manter amizade com Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow.
Quando deposto, aceitou a queda sem resistência e se opôs a qualquer tentativa de restauração pela força. Passou seus últimos dois anos exilado na Europa, vivendo de forma solitária. Décadas depois, sua imagem foi reabilitada. Seus restos mortais foram trazidos de volta ao Brasil com grandes celebrações.
Legado
Os brasileiros permaneceram apegados à figura de Pedro II, considerado um herói popular e visto como o “Pai do Povo”. Esse sentimento era ainda mais forte entre os negros e descendentes de africanos, que associavam a monarquia à libertação. O apoio contínuo ao monarca deposto se explica pela visão de que ele foi “um governante sábio, benevolente, austero e honesto”. Com o tempo, essa imagem positiva de Pedro II e a nostalgia por seu reinado aumentaram, especialmente à medida que o país enfrentava crises políticas e econômicas, que muitos acreditavam serem consequência da deposição do imperador. Pedro II nunca deixou de ser visto como um herói popular e, aos poucos, também se tornou um herói oficial.
Sentimentos de culpa surpreendentemente fortes surgiram entre os republicanos, especialmente após a morte do imperador no exílio. Eles passaram a elogiá-lo, enxergando nele um modelo de virtudes republicanas e acreditando que a era imperial deveria servir como exemplo para a nova república. No Brasil, a notícia da morte de Pedro II causou um sentimento genuíno de pesar, até entre aqueles que não apoiavam a restauração da monarquia, mas que reconheciam os méritos e as realizações do ex-governante.
Em 1921, seus restos mortais e os de sua esposa foram trazidos de volta ao Brasil, em tempo para o centenário da independência em 1922. O governo quis honrar Pedro II com cerimônias dignas de um Chefe de Estado. Foi decretado um feriado nacional, e o retorno do imperador como herói nacional foi amplamente celebrado. Milhares de pessoas participaram da cerimônia principal no Rio de Janeiro. O historiador Pedro Calmon descreveu a cena: “Os velhos choravam. Muitos se ajoelhavam. Todos batiam palmas. Não havia mais distinção entre republicanos e monarquistas. Eram apenas brasileiros”. Essa homenagem simbolizou a reconciliação do Brasil republicano com seu passado monárquico. Em 1920, foi anunciado um movimento para construir um panteão na capital, onde seriam depositados os restos mortais de figuras históricas importantes, incluindo Pedro II, em homenagem ao centenário da independência.
Os historiadores mantêm grande respeito por Pedro II e seu reinado. A historiografia sobre ele é vasta e, com exceção do período logo após sua queda, em geral, altamente positiva. Muitos o consideram o maior de todos os brasileiros. De forma semelhante aos republicanos do início do século XX, os historiadores destacam as virtudes de Pedro II como exemplo a ser seguido, embora nenhum tenha sugerido a restauração da monarquia. O historiador Richard Graham observou que “a maioria dos historiadores do século XX olha com nostalgia para o período do reinado de Pedro II, usando suas descrições do Império para criticar os regimes republicanos e ditatoriais subsequentes do Brasil”.